Inventado em fins de 1824, o sistema braile foi empregado inicialmente em 1825 pelo francês Louis Braille e seus alunos do Instituto Real de Jovens Cegos de Paris, França. Em 1856 o Instituto Real publicou em braile o primeiro trabalho em língua estrangeira: um livro de leitura em português. Os recursos para essa impressão vieram como donativo pessoal do Imperador do Brasil. Durante a maior parte da vida de Louis Braille seu sistema só foi conhecido na escola onde ele estudou e foi professor. A sua história é a de um homem que conseguiu muito lentamente o reconhecimento do valor de sua obra.
As pessoas relutaram muito em mudar os métodos insatisfatórios usados para educar as pessoas cegas. Foi somente no fim de sua vida que o uso do sistema braile começou a expandir-se. E mesmo assim, a significância de sua realização permaneceu obscura para o mundo durante muitos anos. “Sem livros, os cegos não podem realmente aprender”, disse Louis Braille uma vez a seu pai. Em seu diário escreveu: “Se os meus olhos não me deixam obter informações sobre homens e eventos, sobre ideias e doutrinas, terei de encontrar uma outra forma.”
Charles Barbier de la Serre, Capitão de Artilharia do exército de Louis XIII, encontrava dificuldade em transmitir ordens durante a noite. Elaborou, então, um sistema de sinais em relevo, os quais combinados permitiam a transmissão das ordens militares. Assim, no escuro, os subordinados decifravam pelo tato as ordens superiores. Esse sistema que se denominou “escrita noturna” consistia na combinação de pontos e traços em relevo que significavam ordens como: “Avance”, etc. Com o uso do sistema, Barbier pensou na possibilidade de seu processo servir para a comunicação entre pessoas cegas. Transformou-o então num sistema de escrita para cego que dominou “Grafia Sonora”. Louis Braille então estudou, modificou e aperfeiçoou o método de Barbier. Em 1829 foi feita a primeira edição do “Método de Palavras Escritas, Musicais e Canções por meio de Sinais, para o uso de Cegos e Adaptados para eles”. No prefácio desse livro, Braille refere-se a Barbier: “Se nós temos vantagens de nosso método sobre o seu, devemos dizer em sua honra que seu método deu-nos a primeira ideia sobre o nosso próprio”.
O braile é um sistema de leitura tátil e escrita para a pessoa cega. Consta do arranjo de seis pontos em relevo, dispostos em duas colunas de três pontos. Os seis pontos formam o que se convencionou chamar “cela braile”. Para facilitar a sua identificação, os pontos são numerados da seguinte forma:
do alto para baixo, coluna da esquerda: pontos 1 – 2 – 3
do alto para baixo, coluna da direita: pontos 4 – 5 – 6
1 . . 4
2 . . 5
3 . . 6
A diferente disposição desses seis pontos permite a formação de 63 combinações ou símbolos braile. O tato é também um fator decisivo na capacidade de utilização do braile. O sistema braile aplica-se à estenografia, à música e às notações cientificas em geral. O sistema braile permitiu uma forma de escrita eminentemente prática. A pessoa cega pode satisfazer o seu desejo de comunicação. Abriu-lhe os caminhos do conhecimento literário, científico e musical, permitiu-lhe, ainda, a possibilidade de manter uma correspondência pessoal e ampliou também suas atividades profissionais.
O aparelho de escrita usado por Louis Braille consistia de uma prancha, uma régua com 2 linhas com janelas correspondentes às celas braile, que se encaixa, pelas extremidades laterais, na prancha, e o punção. O papel era introduzido entre a prancha e a régua, o que permitia à pessoa cega, pressionando o papel com o punção, escrever os pontos em relevo. Hoje, as regletes, uma variação desse aparelho de escrita de Louis Braille, são ainda muito usadas pelas pessoas cegas. Na reglete escreve-se o braile da direita para a esquerda, na sequência normal de letras ou símbolos. A leitura é feita da esquerda para a direita.
Além da reglete, o braile pode ser produzido por meio de máquinas especiais de datilografia, de 7 teclas: cada tecla corresponde a um ponto e ao espaço. O papel é fixo e enrolado em rolo comum, deslizando normalmente quando pressionado o botão de mudança de linha. O toque de uma ou mais teclas simultaneamente produz a combinação dos pontos em relevo, correspondente ao símbolo desejado. O braile é produzido da esquerda para a direita podendo ser lido sem a retirada do papel da máquina. Há diversos tipos de máquinas de datilografia braile, tendo sido a primeira delas inventada por Frank H. Hall, em 1892, nos Estados Unidos da América.
A maioria dos leitores cegos leem, de início, com a ponta do dedo indicador de uma das mãos – esquerda ou direita. Um número indeterminado de pessoas, entretanto, que não são ambidestras em outras áreas, podem ler o braile com as duas mãos. Algumas pessoas, ainda, utilizam o dedo médio ou anelar, ao invés do indicador.
No Brasil, o braile português por extenso foi introduzido na primeira escola para cegos criada em 1854, o Instituto Benjamin Constant. Essa escola foi a primeira a utilizar o sistema braile na América Latina. O braile foi adaptado à língua portuguesa em 1880 e o primeiro sistema de abreviaturas introduzido em 1905, em Portugal.
José Álvares de Azevedo é o patrono da educação dos cegos no Brasil. Faleceu antes de completar 20 anos de idade, mas deixou o maior legado que qualquer pessoa pode conquistar, se quiser: o conhecimento. Estudou na França, durante quase quatro anos introduziu o sistema braile no Brasil e idealizou no Rio de Janeiro a primeira escola da América Latina para a educação de cegos. A oportunidade que teve de educação o habilitou a desempenhar papel relevante, como pessoa reabilitada e integrada na sociedade, sendo agente transformador para outras pessoas.
A AFADEV desde 2004 proporciona a alfabetização no sistema braile para pessoas com deficiência visual e também para a comunidade em geral que queira aprender o sistema.
AFADEV – A força dos que tem a visão no coração!